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“Aprender a Ver, Ouvir e Calar”



Quando fui para o 5.º ano, a minha Mãe deu-me um conselho que definiu a minha forma de ser e de estar ao longo de todos estes anos. Hoje sou eu que o dou às minhas filhas e a alguns adultos.

A minha Mãe disse-me “para ter amigas tens que aprender a ver, ouvir e calar”. Começou por explicar-me o “ver” e disse-me que nem tudo o que eu via podia ser interpretado como eu achava que estava a ocorrer, pelo que, se visse ou assistisse a uma atitude de alguma amiga que me causasse estranheza, antes de julgar o momento, deveria primeiro pensar e dar tempo ao tempo para perceber o sucedido e, eventualmente, para formular a minha opinião.


Ensinou-me que se aprendesse a ouvir e a calar iria tornar-me uma “guardadora de segredos”, de confidências. Assim sendo, se uma pessoa confiasse em mim, devia honrar a sua confiança, não partilhando com os demais o que me tinha sido contado. Vim a perceber anos mais tarde que talvez seja o pilar mais importante da amizade.


A este respeito, chamou-me a atenção para os boatos, dizendo-me que todos os boatos que chegassem aos meus ouvidos deviam ficar por aí, primeiro porque não tínhamos nada a ver com a vida dos outros e segundo porque desconhecíamos se era verdade ou não.


Na altura vivíamos no paraíso. A “minha” ilha dourada, apenas com 5000 habitantes, onde para alguns, por vezes, era fácil falar da vida dos outros.


Tive a sorte de aprender a ver, ouvir e calar, não só pela explicação que me foi dada mas sobretudo pelo exemplo dos meus pais. Lembro-me de presenciar um episódio em que um adulto contava um boato (sobre mim) à minha Mãe, à minha frente, sem qualquer pudor e ela com um sorriso sábio e sereno respondeu “Nós somos mulheres e somos mães de meninas. Temos que aprender a não nos julgarmos tanto e a ter mais compaixão entre nós”. Nunca me perguntou se o boato era verdade, apenas me defendeu e confiou em mim. E essa fé em mim ajudou-me a criar uma boa base de confiança interior e uma relação Mãe e filha sem barreiras e sem mentiras.


Tenho sido abençoada com amizades lindas ao longo da minha vida e sei que o conselho da minha Mãe foi determinante para isso.


Desafio-te a ter presente este conselho, aprendendo a ver sem julgar, a ouvir honrando cada confidência, cada sonho, cada segredo, cada dor, cada medo, cada partilha que te é feita com base no porto seguro que representas para alguém, e a calar, simplesmente, guardando para ti o que viste, o que ouviste, o que te foi confiado.


Vamos tentar?


Até breve,

Vanessa

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