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Para quê?



O ano de 1997 foi um ano com grandes desafios para mim. Na verdade, foi a primeira vez que perdi seres queridos. Em agosto um amigo que adorava (e adoro) e três meses depois o meu herói, o meu Pai. Entre estes dois episódios assisti, por coincidência ou não, a um programa que estava a dar na televisão e se debruçava sobre este assunto. A perda, o luto, a esperança, a fé, os sinais e outras coisas interessantes. Lembro-me de ter parado nesse canal apenas porque era em castelhano. O programa de televisão passava-se no México e houve uma frase que me ficou gravada até hoje.


As pessoas entrevistadas contavam que só quando deixaram de perguntar-se “porquê a elas” e passaram a perguntar-se “para quê”, começaram a ver a luz no fundo do túnel.


Esta pergunta “para quê?” foi provavelmente a pergunta que me ajudou a sobreviver nesse ano e nos seguintes. Nunca cheguei a perguntar-me porquê a mim, porquê à minha família, pensava antes no para quê. Fui buscar forças a um lugar que ainda hoje desconheço e escolhi seguir em frente. Aprendi tantas coisas à custa desse para quê...


Este episódio duro fez-me viver como nunca antes tinha vivido. Viver de corpo e alma, estando verdadeiramente presente. A viver sempre como se fosse o meu último dia. Passei a pedir desculpas sempre, quando tinha que pedir e também quando não tinha. Passei a achar que o orgulho e “o não me vou rebaixar” eram pequeninos e insignificantes perante estes panoramas. Passei a relativizar tudo e a só dar importância ao que é verdadeiramente essencial. Passei a aproveitar a vida e a tentar passar estas lições aos que me rodeavam (e rodeiam) mas nem sempre é fácil que me entendam. Só quem passa por isto, entende a facilidade com que passamos a relativizar as coisas.


Que importa se um familiar, um amigo, alguém que gostamos, passou por nós e não nos falou, se nos respondeu mal, se em algum momento descarregou em nós, se não nos telefonou no dia de anos? O que se ganha em deixar de falar a um ser que amamos durante dias para o castigar? O que vale isso perante a morte? Nada…é simplesmente tempo perdido, tempo que podíamos ter aproveitado com essa pessoa de outra forma. Por isso, digo sempre aos meus o quão importantes são para mim, nunca me deito chateada com ninguém, despeço-me com amor, abraço com força e tento estar verdadeiramente presente quando estou em família e entre amigos.


Perante um desafio questiono sempre “para quê?”, e, mais tarde ou mais cedo, a resposta acaba sempre por chegar.


Até breve,

Vanessa

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